quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Comunhão Fraterna

A comunhão fraterna orienta-nos a ver na "koinonía" do Espírito Santo não só a "participação" da vida divina quase singularmente, cada um por si, mas também logicamente a "comunhão" entre os crentes que o próprio Espírito suscita como seu artífice e principal agente (cf. Fl 2, 1). Poder-se-ia afirmar que a graça, o amor e a comunhão, referidos respectivamente a Cristo, ao Pai e ao Espírito, são aspectos diversos da única ação divina para a nossa salvação, ação que cria a Igreja e faz a Igreja como disse São Cipriano, no século III "um povo reunido pela unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo" (De Orat. Dom., 23: PL 4, 536, cit. em Lumen gentium, 4).
A idéia da comunhão como participação na vida trinitária está iluminada com particular intensidade no Evangelho de João. Onde a comunhão de amor que une o Filho ao Pai e aos homens é, ao mesmo tempo, o modelo e a fonte da comunhão fraterna, que deve unir os discípulos entre si: "Que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei" (Jo 15, 12; cf. 13, 34). "Para que todos sejam um só... como nós somos um" (Jo 17, 21.22). Portanto, a comunhão dos homens com o Deus-Trindade e comunhão dos homens entre si. No tempo da peregrinação terrena o discípulo, mediante a comunhão com o Filho, já pode participar da vida divina d'Ele e do Pai: "E nós estamos em comunhão com o Pai e com o seu Filho, Jesus Cristo" (1 Jo 1, 3). Esta vida de comunhão com Deus e entre nós é a finalidade própria do anúncio do Evangelho, a finalidade da conversão ao cristianismo: "O que nós vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também vós estejais em comunhão conosco" (1 Jo 1,3). Por conseguinte, esta dúplice comunhão com Deus e entre nós é inseparável. Onde se destrói a comunhão com Deus, que é comunhão com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo, destrói-se também a raiz e a fonte da comunhão entre nós. E onde a comunhão entre nós não for vivida, também a comunhão com o Deus-Trindade não é viva nem verdadeira, como ouvimos.
Façamos agora um ulterior passo. A comunhão fruto do Espírito Santo é alimentada pelo Pão eucarístico (cf. 1 Cor 10,16-17) e exprime-se nas relações fraternas, numa espécie de antecipação do mundo futuro. Na Eucaristia, Jesus alimenta-nos, une-nos a Si, com o Pai, o Espírito Santo e entre nós, e esta rede de unidade que abraça o mundo é uma antecipação do mundo futuro neste nosso tempo. Precisamente assim, sendo antecipação do mundo futuro, a comunhão é um dom também com conseqüências muito reais, que nos faz sair das nossas solidões, dos fechamentos em nós mesmos, e nos torna partícipes do amor que nos une a Deus e entre nós. É fácil compreender como é grande este dom, se pensarmos nas fragmentações e nos conflitos que afligem os relacionamentos entre os indivíduos, grupos e povos. E se não existe o dom da unidade no Espírito Santo, a fragmentação da humanidade é inevitável. A "comunhão" é verdadeiramente a boa nova, o remédio que Deus nos doou contra a solidão, que hoje ameaça todos, o dom precioso que nos faz sentir acolhido e amado em Deus, na unidade do seu Povo reunido no nome da Trindade; é a luz que faz resplandecer a Igreja como sinal elevado entre os povos: "Se dizemos que temos comunhão com Ele, mas caminhamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Pelo contrário, se caminhamos na luz, com Ele, que está na luz, então temos comunhão uns com os outros" (1 Jo 1,6 s). A Igreja revela-se assim, apesar de todas as fragilidades humanas que pertencem à sua fisionomia histórica, uma maravilhosa criação de amor, feita para aproximar Cristo de cada homem e mulher que queira verdadeiramente encontrá-lo, até ao fim dos tempos. E na Igreja, o Senhor permanece sempre nosso contemporâneo. A Escritura não é uma coisa do passado. O Senhor não fala no passado, mas no presente, fala hoje conosco, dá-nos luz, mostra-nos o caminho da vida, dá-nos comunhão e assim nos prepara e abre para a paz.

Originalmente publicado do L'osservatore Romano.
Audiência Geral de quarta-feira, 29 de Março de 2006.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

O Dom da "Comunhão"

Através do ministério apostólico a Igreja, comunidade reunida pelo Filho de Deus que veio na carne, viverá no suceder-se dos tempos edificando e alimentando a comunhão em Cristo e no Espírito, à qual todos estão chamados e na qual podem fazer a experiência da salvação oferecida pelo Pai. De fato, os Doze como disse o papa Clemente, terceiro Sucessor de Pedro, no final do século I tiveram a preocupação de se constituírem sucessores, para que a missão que lhes foi confiada continuasse depois da sua morte. Ao longo dos séculos a Igreja, organicamente estruturada sob a guia dos legítimos Pastores, continuou desta forma a viver no mundo como mistério de comunhão, no qual se reflete em certa medida a mesma comunhão trinitária, o mistério do próprio Deus.
O apóstolo Paulo menciona esta suprema fonte trinitária, quando deseja aos seus cristãos: "A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!" (2 Cor 13, 13). Estas palavras, provável eco ao culto da Igreja nascente, evidenciam como o dom gratuito do amor do Pai em Jesus Cristo se concretize e se exprima na comunhão realizada pelo Espírito Santo. Esta interpretação, baseada no estreito paralelismo que o texto estabelece entre os três genitivos ("a graça do Senhor Jesus Cristo... o amor de Deus... e a comunhão do Espírito Santo"), apresenta a "comunhão" como dom específico do Espírito, fruto do amor doado por Deus Pai e da graça oferecida pelo Senhor Jesus.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A aliança da Família

A família não pode existir sem uma estreita aliança entre os pais, pois o amor por seus filhos passa através de sua relação conjugal.
Há anos atrás se assegurava que os papéis de pai e mãe eram intercambiáveis. Hoje muitos especialistas esclarecem que tal idéia é falsa. O pai é insubstituível em um de seus principais papéis: ser marido da mãe (esposa) e vice-versa.
"O amor insubstituível dos pais por seus filhos não passa somente em linha direta até eles" - esclarece o psicanalista francês Tony Anatrella - senão, e essencialmente, através de sua relação conjugal. "Quando os pais se amam, os filhos se sentem amados e o amor conjugal se transforma no interior dos filhos em sua auto-estima. Quando os pais se separam desaparece essa base segura, o filho fica vulnerável e demora muito recuperar a confiança em si próprio".
Anatrella denunciava, então, uma tendência de ocultar os efeitos das separações, e sim enaltecer exclusivamente o papel das mães, como se somente elas bastassem a seus filhos, fazendo desaparecer a importância da paternidade tanto nas mentalidades como nas leis. Porém esclarecia, quando uma mãe intenta ocupar o papel de pai termina convertida em uma "mãe sobre exigida", enquanto que, quando o pai intenta ocupar o lugar dela, somente se transforma em uma segunda mãe. “Já passamos por épocas caracterizadas por pais napoleônicos, hoje vivemos em outra, caracterizada por mães dominando a procriação. Porém, sofremos a força dos efeitos de ambos os erros. Hoje a família está começando a descobrir, pela influência de seus próprios filhos, que a família não pode existir sem uma estreita aliança entre o pai e a mãe".
Com efeito, nos inícios do século XXI uma forte tendência vem destacar um aspecto vital e insubstituível da figura paterna: o de ser quem ama e cuida da mãe (esposa), dando-lhe confiança, segurança e paz, para que ela por sua vez consiga realizar plenamente sua maternidade. Isto, obviamente, revolta as mulheres auto-suficientes, mais ainda quando tais declarações vêm, principalmente, de psiquiatras e psicólogos homens. Não obstante, é muito maior o número das mulheres que aplaudem o fato de ver como a ciência confirma que elas estão certas ao pedir amor, amor e mais amor a seus maridos.Por outro lado, estes especialistas não vêm mais que confirmar o que os médicos neonatólogos, fazem há muito tempo, o que se tem comprovado empiricamente durante as primeiras horas de vida de um ser humano. Se tem demonstrado que o desenvolvimento psicomotor do recém-nascido se facilita se a mulher se sente querida e protegida por um companheiro estável, pois isso lhe permite acolher e alimentar melhor a seu filho. Assim, o pai é um protagonista ativo no "apego" entre o filho e a mãe, apego que ajuda a que os recém-nascidos adoeçam menos; durmam melhor e ganhem mais peso.Em um casamento tudo pode ir bem, - escreve o filósofo e psicólogo italiano Piero Ferrucci -, porém deve haver o esforço para que isto continue assim. Não se pode viver "da rentabilidade" do amor, e há que se recuperar de tempo em tempo o "egoísmo" do noivado, quando ambos estavam sós. Entre outras razões porque os filhos podem fazer que as relações sejam melhores, porém também piores.
Melhores, porque levam a unirem-se na aventura extraordinária de estar ao serviço de seus filhos, que crescem e os ajudam a converterem-se em dois seres humanos autênticos e completos. Porém piores, porque podem deixar pouquíssimo tempo para estarem juntos e a qualidade intelectual dos diálogos pode cair na mesmice: "Esta fralda deixa passar o xixi".

A quanto tempo você não dá uma abraço apertado em família e declara o seu amor com um "Eu te amo"?

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

"Ontem foi embora. Amanhã ainda não veio. Temos somente hoje, comecemos."

O que impressionava em Teresa de Calcutá era a gratuidade do seu serviço, que parece não buscar outro objetivo além do próprio ato de servir. Evidentemente, não se pode pensar, embora já se tenha tentado retirar de seus ditos, que se tenha consagrado, de alma, corpo e coração, a um serviço que não queria ir além de uma ajuda puramente humana. Havia, nem podia deixar de haver, no seu encontro com o doente ou o miserável, uma silenciosa prece de esperança, para que o ajudado recebesse, pelo alimento que lhe davam a graça de descobrir a face de Cristo e beneficiar-se com o olhar do Salvador, vindo do alto de sua cruz. Mas não usava o seu serviço como um instrumento ou meio para convertê-lo.Missionária da caridade, levava apenas o amor de amizade, a oferta de uma companhia humana enternecida para minorar a solidão - o não ter ninguém por si - do desamparado e do pária - Mais que um pão ao faminto levava um pouco ao sozinho ou abandonado. E não raro - alguém lhe deu essa qualificação, como título de menosprezo pela sua obra carente de eficácia - era, concretamente, a missionária dos moribundos. Tem-se falado muito da solidão dos doentes terminais, aos quais nem o médico, o último amigo, de ânimo quebrado, por não ter mais nada a fazer, dá uma atenção sensível. A essa solidão do pária humilhado, no seu último momento da vida terrena, Teresa queria levar essa presença de uma companhia.Somos Herdeiros da Promessa, Jesus Cristo conquistou isso para nós fazendo-se maldição em nosso lugar, sofrendo em sua condição humana nossos males (exceto o pecado), e, morrendo, nessa morte deu-nos sua vida, vida nova!Madre Teresa de Calcutá é uma espécie de "lembrete" de que também somos sinais dessa salvação conquistada por Jesus para nós. Jesus tirou-nos das garras do mal e nos trouxe para a verdade, para a luz, para o Pai. Para muitos desfavorecidos Madre Teresa de Calcutá e as irmãs de sua Ordem foram e continuam sendo essa presença de Jesus levando a dignidade e amor a quem vive uma vida, muitas vezes sub-humana.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Oração, Jejum e Misericórdia

Há três coisas, irmãos, pelas quais se confirma a fé, se fortalece a devoção e se mantém a virtude: a oração, o jejum e a misericórdia. Oração, jejum e misericórdia: três coisas que são uma só e se vivificam mutuamente.
O jejum é a alma da oração, e a misericórdia é a vida do jejum.Ninguém tente dividi-las, porque são inseparáveis. Quem pratica apenas uma das três, ou não as pratica todas simultaneamente, na realidade não pratica nenhuma delas. Portanto, quem ora, jejue; e quem jejua, pratique a misericórdia. Quem deseja ser atendido nas suas orações, atenta as súplicas de quem lhe pede, pois aquele que não fecha os seus ouvidos às súplicas alheias, abre os ouvidos de Deus às suas próprias súplicas.
Quem jejua, entenda bem o que é o jejum: seja sensível à fome dos outros, se quer que Deus seja sensível à sua; seja misericordioso, se espera alcançar misericórdia; compadeça-se, se pede compaixão; dê generosamente, se pretende receber. Muito mal suplica quem nega aos outros o que pede para si.
Homem, sê para ti mesmo a medida da misericórdia; deste modo alcançarás misericórdia como quiseres, quanto quiseres e com a prontidão que quiseres; basta que te compadeças dos outros com generosidade e prontidão.
Façamos, portanto, destas três virtudes - oração, jejum, misericórdia - uma única força mediadora junto de Deus em nosso favor; sejam para nós uma única defesa, uma única operação sob três formas distintas.
Reconquistemos pelo jejum o que perdemos por não o saber apreciar; imolemos pelo jejum as nossas almas, porque nada melhor podemos oferecer a Deus, como ensina o Profeta: Homem, oferece a Deus a tua alma oferece a oblação do jejum, para que seja uma oferenda pura, um sacrifício santo, uma vítima viva, que ao mesmo tempo fica em ti e é oferecida a Deus. Quem não dá isto a Deus, não tem desculpa, porque todos se podem oferecer a si mesmos.
Mas para que esta oferta seja aceita por Deus, deve acompanhá-la a misericórdia; o jejum não dá frutos se não for regado pela misericórdia; seca o jejum se secar a misericórdia; o que a chuva é para a terra, é a misericórdia para o jejum. Por muito que cultive o coração, purifique a carne, extermine vícios e semeie virtudes, nenhum fruto recolherá quem jejua, se não abrir os caudais da misericórdia.
Tu que jejuas, não esqueças que fica em jejum o teu campo se jejua atua misericórdia; pelo contrário, a liberalidade da tua misericórdia encherá de bens os teus celeiros. Portanto, ó homem, para que não venhas a perder por ter guardado para ti, distribui aos outros para que venhas a recolher, dá a ti mesmo, dando aos pobres, porque o que deixares de dar aos outros, também tu não o possuirás.

Pe. Emiliano Tardif

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Sentido do termo Evangelho

O sentido do termo "evangelho" é "Boa Nova" e os quatro livros canônicos (Mateus, Marcos, Lucas e João) têm como objetivo relatar, não uma biografia ou a história de Jesus, mas a experiência, o anuncio desta "Boa Nova". No princípio houve a pregação oral dos apóstolos, centrada em torno do "querigma" (primeiro anúncio) que anuncia a morte redentora e a ressurreição do Senhor. Todos os evangelistas adaptaram a mensagem de Jesus para as condições de seus leitores e de sua comunidade, buscando provar, graças ao testemunho dos apóstolos, que Jesus era de fato o Messias que veio instaurar o Reino de Deus no meio de nós e trazer a salvação para toda a humanidade, sem discriminação e exclusões, como anunciado pelos profetas de outrora, pretendendo com isto fazer um apelo para a conversão.
Os três primeiros evangelhos (Mateus, Marcos e Lucas) são chamados sinóticos (do grego: syn = com, conjunto; ôpsis = visão), podem ser visto numa só visão de conjunto, mas por terem sido adaptados para os seus leitores, apresentam diferenças entre si, mas sem alterar o núcleo do anúncio.
O evangelho de João apresenta características próprias neste anúncio, não seguindo o mesmo esquema nem a mesma linguagem dos três primeiros autores.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Maria, Mulher dócil à voz do Espírito

"Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1,38).

João Paulo II em sua carta apostólica Tertio Milennio Adveniente, nos convida a descobrir Maria como mulher dócil à voz do Espírito Santo, mulher do silêncio e da escuta, mulher de esperança que soube acolher como Abraão a vontade de Deus "esperando contra toda esperança" (Rm 4,18).
Buscando uma melhor explicação da palavra dócil, procurei no dicionário sua definição e encontrei que dócil é aquele que se deixa conduzir facilmente; que é fácil de ensinar; obediente, dúctil; que se deixa trabalhar com facilidade.É fácil ser dóceis quando tudo está bem; porém a vida de Maria, ainda que à primeira vista luz tão formosa, esteve cheia de caminhos escabrosos e difíceis. Maria se deixou guiar em momentos de necessidade econômica, quando teve que dar à luz o Salvador do mundo em uma gruta em Belém e durante seu exílio no Egito.
Maria se deixou guiar pelo Espírito nas situações difíceis, quando estando desposada de José, ficou grávida. Deixou-se guiar pelo Espírito no momento em que Jesus ficou para trás no Templo em Jerusalém e quando pediu a Jesus um milagre nas bodas de Caná. No momento da Anunciação, a Virgem Maria recebe toda a força que a acompanhará durante os difíceis momentos que teve que viver, assim como Jesus recebe a força para suportar sua Paixão e sua Crucifixão em sua oração no horto de Getsêmani.

E você, está dócil ou fechado à voz do Espírito Santo?

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Salvos na Cruz

A cruz só pode ser considerada como salvadora quando entendemos que ela é o ápice de toda a vida de Jesus, que veio nos trazer uma mensagem de justiça e amor ao próximo e, desta forma, nos libertar e nos dar esperança. A cruz vista como um momento de sofrimento é salvadora quando este sofrimento se reverte numa doação pelo outro. Se pararmos para refletir na cruz veremos os verdadeiros sentidos do cristianismo nela: Justiça e Amor pelo outro – Jesus veio pregar o Reino de Deus, um reino de justiça e de amor ao próximo, um reino que olhava para os marginalizados (mulheres, crianças, pobres e doentes), todos aqueles que estavam a margem de uma civilização farisaica. Ele que só veio pregar o amor pelo próximo foi o maior injustiçado, sofreu pelo outro, mesmo assim nos deixou o convite e o exemplo de perdoar 70x7, de amar os nossos inimigos, de pagar o mal com o bem, não pede que sejamos pacatos, mas justos; Doação ao próximo – Cristo se doa na cruz por todos nós, se doa na cruz pelos injuriados, difamados e discriminados, se doa na cruz pelos nossos pecados e fraquezas, assim Ele mostra a necessidade de se entregar pelo outro, de até dar a vida pelos mais necessitados; Entrega e Confiança – Ele mesmo com medo, mesmo se sentindo abandonado, confia no Pai, e se entrega por todos nós num ato de puro amor e libertação; Esperança – Jesus vence a morte de cruz e nos promete um mundo novo, onde haverá justiça para todos os homens. Ele quer homens e mulheres novos, não quer que fiquemos sofrendo, mas sim nos convida a reagir as adversidades da vida.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Como ler a Bíblia

"Toda a Sagrada Escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça. Por ela, o homem de Deus se torna perfeito, capacitado para toda boa obra (cf. II Timóteo 3, 16-17).

1- LER: Escutamos a Palavra de Deus. É a hora de engolir. É uma leitura bem ativa: lemos com lápis ou caneta na mão, sublinhando e destacando elementos essenciais: verbos, sujeitos ativos, ações, atitudes, pensamentos, a situação, os motivos das ações. Mais do que ler, na verdade, relemos várias vezes, fazendo com a caneta todas essas anotações. Podemos recorrer a outras traduções que ajudem a esclarecer; lançar mão de introduções, explicações e notas de rodapé, hoje abundantes em nossas Bíblias. Podemos também comparar com as passagens paralelas, em geral indicadas nas margens das páginas da Bíblia, logo depois dos títulos, etc. Esse é o primeiro estágio do mastigar e engolir. Vamos prestando atenção aos vários pontos indicados e nos deixando levar de uns para os outros a partir do seu próprio movimento interior; isso leva de modo natural a um surpreendente entendimento. É a luz que se faz interior. Esse imperativo interior nos conduz de maneira deveras natural à segunda etapa, que é quando se inicia de fato a “ruminação”.

2- SABOREAR: Poderíamos chamar essa etapa de “meditar”, pois, na verdade, é uma meditação da Palavra mastigada. Não o fazemos, contudo, para não dar a impressão errônea de que se trata de um trabalho puramente intelectual, preferindo denominá-la “saborear”. Tive um professor de ciências que dizia que na hora de a vaca e o boi ruminarem o capim, este fica, por causa da saliva, doce. Brincávamos com ele, perguntando-lhe como ele sabia disso… Na verdade, é chegado o momento de “sentir” a Palavra. O intelecto também participa dele, mas não está sozinho. Entram também os sentimentos, a nossa liberdade movida pelo Espírito, os vários movimentos da vontade. Eis o principal momento em que devemos nos deixar impregnar pelos sentimentos que o Espírito Santo faz surgir em nós por meio da Palavra: alegria, medo, confiança, generosidade, arrependimento, esperança, entusiasmo, entre outros. Os vários sentimentos, os vários impulsos que se misturam uns aos outros.

3- ORAR: Como é de se esperar, esses sentimentos nos levam a dar uma resposta. Não é tanto responder à Palavra quanto ao Senhor que, pela Palavra, infundiu em nós esses impulsos. Brota naturalmente o louvor, o arrependimento, a súplica, a gratidão, o pedido de perdão, a oferta, a adoração, e assim por diante. Mais do que uma oração por palavras, essa vai ser uma oração de sentimentos e de atitudes interiores. Umas poucas palavras nos prestarão simplesmente ajuda para nos exprimirmos e nos referirmos ora ao Pai, ora a Jesus, ora ao próprio Espírito Santo. É uma oração já bem simples e sobremodo interiorizada.

4- CONTEMPLAR: Pouco a pouco, todos aqueles sentimentos que se misturavam e se multiplicavam em nós, assim como os vários movimentos de oração por eles provocados, vão se simplificando e se unificando em nosso íntimo. É a hora da tranquilidade, da harmonia, do repouso em Deus. Eis o que significa contemplação: entrarmos, mediante a Palavra, no Templo de Deus, que existe em todos nós e aí nos deixamos ficar repousando no Senhor. Vem aqui a simplicidade de todos os nossos movimentos interiores. Trata-se de um movimento privilegiado, um instante de graça. Todos podem chegar a vivenciá-lo; Deus deseja vê-lo em todas as pessoas, sem distinção. Os mais simples podem chegar com mais facilidade a esse ponto; os que mais penam são os intelectuais. É lamentável que se tenha criado tanto mistério, tanta complicação, acerca de algo tão simples como a contemplação, a ponto de parecer que só tem acesso a ela uma minoria, quando o Altíssimo sempre quis vê-la ao alcance de todos. Graças ao Pai isso nos é devolvido hoje, e gratuitamente.

5- ESCREVER: O ponto de chegada é a contemplação. Contudo, depois que a rede está repleta de peixes, não se pode deixar que escapem e vão embora. Apesar do gozo espiritual que a contemplação lhe traz, ponha-se a escrever: é seu Diário Espiritual, feito agora de maneira distinta e certamente muito proveitoso. Não é questão de escrever muito, nem é o momento de narrar ou descrever o que se passou. Agora, temos somente de registrar: O que Deus me falou? O que Ele realizou em mim? O que deixou depositado em meu interior? Isso tudo é muito precioso; é algo que não se pode perder. Você também pode registrar: O que, a partir dessa Palavra, Deus diz hoje de mim? O que Ele diz para mim? Você recolhe o conteúdo depositado em seu ser dos dois lados: “O que diz de mim” e “O que diz para mim”. Não estou fazendo um simples jogo de palavras, são duas maneiras de focalizar a questão. E não é difícil diferenciar.
Veja primeiro: O que Deus diz de mim? O que sou? Quem Ele me fez? Quais qualidades que Ele mesmo me deu e quer que eu as assuma e cultive. Da minha vocação e missão, do trabalho específico a mim confiado e para o qual me capacitou com os dons naturais que me deu, com os carismas do Espírito Santo de que me dotou por graça. Segundo: O que Ele diz para mim? O que Ele quer de mim? Que eu seja e que eu realize. Que atitudes quer que eu tome e o que quer que eu cultive. “Por quais caminhos Ele quer que eu vá, que rumos me indica, que mudanças quer que eu assuma, o que quer transformar em mim”.

*(Trecho do livro a “Bíblia foi escrita para você” de monsenhor Jonas Abib, fundador da Comunidade Canção Nova).

Oração: Ó Deus, torna meu espírito digno de encontrar sua alegria na compreensão do Mistério de Cristo, teu Filho bem-amado, revelado nas Escrituras. Acende tua Santa Luz, no meu coração, a fim de que meu espírito penetre para além das palavras escritas com tinta… Que eu veja, com os olhos iluminados, os sagrados mistérios escondidos na tua Boa Nova. Concede, ó meu Senhor, por tua graça, e tua misericórdia, que tua lembrança nunca desapareça do meu coração, nem de dia nem de noite. Amém.