sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Em mim terás paz (2a. parte)

Jesus, em João 14,27, nos fala disso. Ele estabelece aí uma diferença, uma separação: "Eu vos deixo a paz, Eu vos dou a minha paz". Nós falamos isso na missa. Em toda missa a gente fala isso, mas nunca acreditamos nisso. Nós não cremos na Palavra de Deus.
Jesus diz: "Eu vos deixo a paz, eu vos dou a minha paz; não a dou como o mundo a dá. Não se perturbe o vosso coração, nem tenhais medo".
A Palavra de Deus nos diz para não ficarmos ansiosos, que o nosso coração não se turbe, a que a gente não tenha medo. Nós não recebemos um espírito de medo, diz a Sagrada Escritura, mas a paz do Senhor.
Jesus diz: "no mundo tereis tribulação. Em mim, tereis paz" (Jo 16,33). Enquanto estivermos fisicamente no mundo, teremos tribulação. Porque o mundo não pode dar outra coisa. Faz parte do sistema dele tribular, perseguir e hostilizar, mortificar aqueles que são de Deus, os que vivem a vida de Jesus, porque o mundo não suporta isso, repetimos. Como não suportou a Jesus. O mundo não suporta Jesus e não suporta aqueles que vivem a vida de Jesus.
Temos de saber que o mundo nos odeia e que vamos ter tribulação continuamente. Faz parte, é nossa missão estar em território inimigo, sendo hostilizados continuamente por esse inimigo. "No mundo, tereis tribulação". Não há escapatória.
Temos de contar com ela. "Mas não temais. Eu venci o mundo." "Coragem! eu venci o mundo." O mundo não pode nada contra nós. Não precisamos ter medo. "Eu vos dou a minha paz, e a minha paz vos guardará."
Deus nos colocou aqui no mundo e aqui vamos sofrer as pressões do mundo, as exigências do mundo, as necessidades do mundo. Mas também nos colocou em Cristo Jesus. Fomos colocados por Deus em Cristo Jesus, para sermos sustentados por Ele, guardados imperturbáveis no meio de todas as pressões e tribulações do mundo.Então, aqueles que vivem a vida de homens carnais, como diz São Paulo, serão arrastados pelo mundo, porque vivem segundo o mundo, com sua mente conforme o mundo. Mas aqueles que obedecem à Palavra da Sagrada Escritura: "Não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos mediante a renovação da vossa mente", esses não são arrastados pelo mundo, porque o mundo não os engana mais.
Se é a vida do Espírito que está em nós, ficaremos imperturbáveis, venceremos o mundo, não por nos opormos a ele, não porque o combatemos, mas por não sermos daqui; por sermos de outro mundo, de um modo muito positivo: no poder de Deus, no poder do Alto. Por possuir um amor, uma alegria, uma paz, fruto do Espírito, que o mundo não pode dar nem tirar e porque temos todas essas coisas em Cristo Jesus, coisas de que os homens tanto necessitam, nós podemos dar isso aos homens. Podemos transmitir a boa nova aos homens, que eles não têm necessidade mais de viver segundo a carne, mas de viver no Espírito crendo em Jesus.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Não sei como adorar

No dia em que diante do Santíssimo Sacramento reconheceres a grandeza de quem se encontra diante de ti, sentirás o desejo de adorá-lo.
Vamos começar pelo princípio: tens realmente o desejo de adorar o Senhor? Sim? Magnífico! Não necessitas nada mais. Coloca-te na presença de Jesus exposto na custódia (ostensório), prosta-te diante Dele reconhecendo tua pequenez, tua miséria, teu nada; ante Ele que é o Santo, o Todo-Poderoso, o Misericordioso, todo Amor, que sendo o Filho de Deus - igualmente Deus - por amor a ti e a toda a humanidade quis salvar-nos a todos e se humilhou.
Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz.
Por isso Deus o exaltou soberanamente e lhe outorgou o nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos infernos. “E toda a língua confesse, para a glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é o Senhor" (Filipenses 2,6-11).
Se, esse Jesus Cristo, Filho de Deus, é o que está presente com seu corpo, sangue, alma e divindade na hóstia, esse pedacinho de pão já não é pão. O pão é ele mesmo ali, hoje e sempre, o que te tem amado até a loucura de dar sua vida na cruz por ti.
O dia que diante do Altíssimo Sacramento reconheceres - não com teu entendimento, mas com teu ser - a grandeza, majestade e santidade de quem se encontra frente a ti, sentirás o desejo de adorá-lo e Ele te mostrará o caminho.
Pede "o desejo de ter o desejo", de arder em desejos de adorá-lo em sua presença santa. Se creres que necessitas de ajuda, peça ajuda a Nossa Mãe Maria quem, com toda segurança, adorou a seu filho no presépio; e é possível que ela te fale de humildade e sensibilidade.
A sensibilidade é um ponto chave para a adoração. Recordo uma história do camponês que passava horas diante do Santíssimo sem abrir a boca, e quando o pároco intrigado lhe perguntou o que ele fazia ali tanto tempo, ele respondeu: "Eu olho para ele e ele me olha".Oxalá aprendêssemos a lição do camponês, assim chegaríamos a ser verdadeiros adoradores em Espírito e Verdade.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Em mim terás paz

São Paulo nos diz: "E a paz de Deus guardará os vossos corações". Esse "guardará", na mente do apóstolo é o seguinte: a paz de Deus montará guarda em torno de nossos pensamentos e corações. A paz de Deus é como uma guarnição militar em torno de nossos pensamentos e corações. Para o inimigo chegar até mim, ele tem primeiro de combater a guarda que está aí, montada no portão. Vai ter de vencê-la. Se ele não combater essa guarda, se ele não a vencer, não poderá chegar até mim. E essa guarnição que está no portão, guardando meu coração, meus pensamentos, é a Paz de Deus. Portanto eu posso estar tão em paz quanto Deus. Porque a paz que me está guardando é a paz de Deus!
Se soubéssemos o que é ser Filho amado do Pai, não nos preocuparíamos mais com 90 por cento das coisas com que gastamos nossa vida. A paz de Deus que nos guarda é a mesma paz que guarda Deus. Não é outra, e isso o mundo não sabe, não entende. Ultrapassa, diz São Paulo todo entendimento. Está além de qualquer compreensão. Mas, não! No mundo é chique a gente ter preocupações. Se não temos preocupações, se não torcemos as mãos e não arrancamos os cabelos, não somos humanos! Mas não somos chamados a ser humanos. Somos chamados a ser filhos de Deus. Para sermos humanos, não precisava Cristo ter morrido na cruz. Jesus não precisava ter morrido na cruz para eu continuar a viver uma vida de simples homem carnal.
Se vivo na paz do meu Senhor, não torço as mãos, nem arranco os cabelos, porque a paz de Deus monta guarda no meu coração, e sou arrancado do sistema do mundo.
Por mais, diz a Sagrada Escritura, estejais ansiosos. Por nada. E nada é nada mesmo! Palavras de Deus. E se somos de Jesus, guardamos os seus mandamentos. "Aquele que me ama guarda o meu mandamento", Palavra de Deus. "Por nada estejais ansiosos" - é uma ordem do Senhor. Se eu sou do Senhor, pratico essa palavra de Deus, eu a ponho em prática. "Porque em mim, eu tenho tudo o que é necessário para a vida e a piedade", diz a Sagrada Escritura. Portanto, por nada estarei ansioso, porque a paz de Deus guarda o meu coração, e eu não tenho de agir segundo o mundo, porque eu não estou mais com a forma do mundo na minha mente, na minha alma, mas estou vivendo segundo o homem novo que Deus colocou em mim, pela obra de seu Espírito Santo.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A fome termina quando aprendemos a compartilhar

Relatos de Madre Teresa de Calcutá sobre a opção pelos pobres.

1. Faz umas semanas, dois jovens vieram a nossa casa para oferecer-me muito dinheiro para dar de comer ao povo. Em Calcutá damos de comer a nove mil pessoas por dia. Queriam que o dinheiro se destinasse a alimentar esta gente.
Perguntei-lhes: De onde tiraram tanto dinheiro? Eles me responderam: "Nós acabamos de casar faz dois dias. Antes das bodas decidimos que não compraríamos trajes nem para a cerimônia nem para a festa. Queremos dar a você o dinheiro".
Para um hindu de classe alta isto é um escândalo. Muitos ficaram totalmente surpreendidos ao ver como uma família desse nível não havia comprado trajes nem havia organizado festas por motivo das bodas. Depois perguntei a eles: "Por que não o fizeram?"
Esta foi a estranha resposta que me deram: "Nos amamos tanto que queríamos dar algo a outros para começar nossa vida em comum com um sacrifício". Impressionou-me muito o constatar como estas pessoas estavam famintas de Deus. Uma maneira de manifestar-se o amor mútuo era fazer esse sacrifício enorme. Estou segura de que os ocidentais não podem entender o que significa isto. Em nosso país, na Índia, sabemos o que significa não ter vestidos e festas para a boda. Sem dúvida, estes dois jovens tiveram a audácia de comportar-se assim. Isto é verdadeiramente um amor em ação.
E, onde começa o amor? Na própria casa. Como começa? Rezando juntos. Uma família que reza unida permanece unida. E, se permanece unida, então se amarão uns aos outros como Deus nos ama.

2. Em uma ocasião, pela tarde, um homem veio à nossa casa para contar-nos o caso de uma família hindu de oito filhos. Não comiam há vários dias. Pedia-nos que fizéssemos algo por eles, de modo que tomei um pouco de arroz e fui vê-los. Vi como brilhavam os olhos das crianças por causa da fome. A mãe tomou o arroz de minha mãos dividiu-o em duas partes e saiu. Quando regressou, perguntei-lhe que havia feito com uma das porções de arroz. Respondeu-me: "Eles também têm fome". Sabia que os vizinhos da porta ao lado, os mulçumanos tinham fome. Fiquei mais surpresa por sua preocupação pelos demais que pela ação em si mesma. Em geral, quando sofremos e quando nos encontramos em uma grave necessidade não pensamos nos demais. Pelo contrário, esta mulher maravilhosa, débil, pois não comia há vários dias, tinha tido o mérito de amar e dar aos outros, tinha tido o préstimo de compartir.
Freqüentemente me pergunto quando terminará a fome no mundo. E eu respondo: "Quando tu e eu aprendermos a compartir". Quanto mais temos, menos damos. Quanto menos temos, mais podemos dar.

3. Uma vez encontrei a um homem em um desaguadeiro aberto em Calcutá. Havia visto que algo se movia na água; ao perceber o que acontecia me dei conta de que era um homem. Levei-o a nossa casa para moribundos. Temos um lugar para pessoas nesta situação. Em todos estes anos temos recolhido pelas ruas de Calcutá 45 mil pessoas como esta. Destas, 19 mil morreram rodeadas de amor. De modo que levei aquele homem a nossa casa. Não blasfemou, nem gritou. Seu corpo estava totalmente coberto de vermes. A única coisa que disse foi: "Tenho vivido toda a minha vida nas ruas como um animal. E agora vou morrer como um anjo, amado e atendido". Depois de três ou quatro horas morreu com um sorriso nos lábios. Esta é a grandeza de nossa gente.

4. Ultimamente vêm muitos jovens trabalhar em Calcutá com os moribundos, com os leprosos, ou na casa para as crianças. Um dia chegou também uma moça da Universidade de Paris. Em seu rosto se podia ver uma profunda preocupação. Porém depois de algumas semanas de trabalho com os moribundos, disse: "Encontrei Jesus". "Onde?", perguntei-lhe. Ela me disse: "Encontrei-o na casa dos moribundos". "E, que fizeste?" Confessei-me pela primeira vez depois de quinze anos e enviei um telegrama a meus pais porque encontrei Jesus. Em seus países, na Europa, na América, não sei se o povo morre de fome, porém eu vejo uma pobreza, todavia, mais difícil de extirpar: a solidão daqueles que são marginalizados, a sensação de não se sentir desejado, amado, o ver-se abandonado. Insisto que precisamos aprender a nos amar, pois se não nos amamos, não nos sentimos amados, não podemos amar.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A direção de Deus, problemas até entre os apóstolos.

O capítulo 15 de Atos dos Apóstolos começa com a conferência em Jerusalém dos apóstolos e anciãos que se reuniram para decidir se os cristãos provindos do paganismo eram obrigados a seguir a Lei. Concordaram então sobre certas restrições que os cristãos gentios deviam observar para não ofender os cristãos judeus, Paulo propôs uma volta às igrejas que ele e Barnabé tinham fundado, para transmitirem a decisão do conselho e verem como as igrejas estavam indo. Barnabé quis levar com eles João Marcos, mas Paulo não concordou. (cf. At 15,36-38)
Se voltarmos a Atos 13,13, descobrimos que numa viagem missionária anterior, João Marcos, aparentemente sem a aprovação de Paulo, desertou da equipe e voltou a Jerusalém. Embora nenhuma declaração crítica seja feita sobre seu abandono na época, quando Barnabé sugeriu que tomassem Marcos junto nessa viagem, Paulo disse, com efeito: "Não, ele nos abandonou antes, e não vou levar um desertor conosco desta vez." O resultado foi uma discussão azeda. (cf. At 15,39-40)
É bonita a franqueza da Sagrada Escritura. "A discordância se agravou a tal ponto que eles partiram cada qual para seu lado".
É muito encorajador, acho eu, quando a Bíblia revela as limitações dos líderes da Igreja Primitiva. São homens admiráveis e não há porque diminuí-los, mas agradeçamos a Deus a honestidade da Sagrada Escritura em mostrar-nos que eles também tiveram os seus problemas. Que Deus os tenha usado poderosamente apesar de tudo, dá-nos coragem, porque significa que Deus pode nos usar também, apesar de nossos problemas.
Paulo e Silas saíram na viagem e observem também que até este ponto não há nada de super espiritual na viagem deles. Nenhuma voz de Deus trovejando, nenhuma revelação detalhada do "Plano Piloto" de Deus. Paulo simplesmente sugeriu: "Vamos visitar as igrejas", e ele e Silas se puseram a caminho. Este foi o primeiro princípio.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Madre Teresa de Calcutá - O rosto da caridade

Nascida em Skopie, Albânia, atualmente capital da Macedônia, seu nome original era Agnes Gonxha Bojaxhiu. Realizou estudos em Dublin e em Darjeeling, viajando para a Índia em 1928, como noviça das Irmãs de Nossa Senhora do Loreto. Em Calcutá, dividiu a docência no St. Mary´s High School, escola da Ordem. Em 1937 tomou os votos definitivos. Chefe de estudos do colégio durante vários anos, em 1946 decidiu mudar de atividade e dedicar-se ao cuidado dos mais desfavorecidos de Calcutá, após comprovar que era mais importante o trabalho que podia desempenhar em uma das cidades mais pobres da terra. Dois anos mais tarde viajou para Paris para estudar enfermaria e atenção ao paciente, voltando pouco mais tarde à Índia para fundar uma escola para crianças. Em 1950 decidiu fundar uma congregação que denominou Missionárias da Caridade recebendo autorização da Diocese de Calcutá. Seu objetivo era dedicar-se exclusivamente ao cuidado dos enfermos, dos pobres e dos desvalidos de Calcutá. A regra da ordem era baseada nos votos tradicionais, quer dizer, pobreza, castidade e obediência. Pouco tempo mais tarde a Ordem foi aprovada por Roma, abrindo em 1952 a primeira Casa dos Moribundos Indigentes, chamada em hindu “Nirmal Hriday” (Coração Puro). Cinco anos mais tarde , em 1957, se dedicou também ao cuidado dos leprosos. Com o tempo o trabalho da congregação foi-se tornando cada vez maior e mais eficaz, estendendo seu trabalho não só a Calcutá como também a outras cidades da Índia e ainda aos cinco continentes. Seu trabalho abnegado, sua entrega incondicional e a defesa constante dos mais pobres lhe valeram ser reconhecida com vários prêmios como o Prêmio Internacional da Paz João XXIII, que lhe foi entregue pelo Papa Paulo VI, o Prêmio Bom Samaritano (Boston), e o Prêmio Nobel da Paz, que lhe foi concedido em 1979. Seu precário estado de saúde não a impediu de trabalhar a favor dos mais pobres até as suas últimas forças, a ponto do Papa João Paulo II, solicitar-lhe que diminuísse seu ritmo de trabalho devido ao seu delicado estado físico. Nacionalizada indiana, faleceu em Calcutá em 5 setembro de 1997, sendo reconhecida como uma das personalidades mais influentes, com seu exemplo nos fins do século XX.
Seu funeral foi tratado como de Estado, vários foram os representantes do mundo que quiseram estar presentes para prestar a sua homenagem. As televisões do mundo inteiro transmitiram ao vivo durante uma semana, os milhões que queriam vê-la no estádio Netaji. No dia 19 de outubro de 2003, o Vaticano beatificou Madre Teresa.Hoje a sua Congregação reúne 3 mil freiras e 400 irmãos, em 87 países, dando apoio aos mais necessitados em cerca de 160 cidades.

De tudo isso, o que se depreende é que a grandeza de Teresa de Calcutá se baseia na máxima do evangelho "amai-vos uns aos outros" e, ainda na certeza, não apenas simbólica, de que é o próprio Cristo que se serve no pobre, no doente e no encarcerado. Teresa de Calcutá veio nos ensinar a primazia do espiritual. Não a primazia do político, nem a primazia do social, mas do reino de Deus e sua justiça. Essa, nela e na família espiritual que espalhou pelo mundo, pela vida do amor de Deus sobre todas as coisas e do próximo como o Cristo nos amou, é a grande mensagem que deixa para nós.
Este é um exemplo de que os herdeiros da Promessa não a guardam para si, ao contrário, a promessa e a riqueza do Reino de nosso Pai multiplicamos ao dividir com outros, doando-nos e amando, levando dignidade.
O Reino de Deus se constrói com oração e trabalho e essa é a maior mensagem que Madre Teresa de Calcutá nos deixa: "A fome não é só de pão, a fome é de amor."

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

A Igreja e o Reino

A Igreja não é um mero acessório no Plano de Deus. Ela integra o mistério da salvação. O Reino de Deus, que almejamos e que é dom de Deus para nós, não está, de modo algum, desvinculado da Igreja. Embora a Igreja, em seu estado de peregrina neste mundo, não realize plenamente o Reino, embora o Reino não esteja contido dentro das fronteiras visíveis da Igreja, embora o Reino transcenda a Igreja considerada em seu aspecto social e visível, ele, o Reino, já se encontra em germe nela e não pode ser concebido sem uma relação estreitíssima com ela. Desse modo, a Igreja não é apenas um sinal, entre outros, do Reino. Ela não é apenas “chamada” a ser “o melhor sinal”, como já ouvi alguém dizer por aí. Tal afirmação peca contra o legítimo conceito católico de Igreja. Ela, na verdade, é já o Reino em germe (Lumem gentium, 5), é “o” sinal visível e indefectível do Reino, é o “sacramento universal da salvação” (Lumen gentium, 48).
Foi uma concepção equivocada, que tem vigorado em certas linhas de pensamento teológico, que, querendo combater o que foi chamado de “eclesiocentrismo”, desvinculou o Reino e a Igreja, em favor de uma tal teologia “reinocêntrica”, segundo a qual o Reino de Deus, sendo a grande meta, deixa relativizada a Igreja. Desse modo, o Reino passou a ser considerado de tal forma que a sua relação com a Igreja foi empalidecida ou mesmo negada. E o próprio conceito de Reino sofreu violência ao ser tomado prevalentemente em sentido terrestre, como se outra coisa não fosse senão a realização da justiça e da paz social, o que nos leva à idéia de um vago reino de Deus em que o próprio Deus fica entre parênteses. A Igreja, nesse sentido, seria apenas um sinal do Reino entre outros tantos, já que qualquer entidade governamental, associação filantrópica ou ONG pode trabalhar muito bem em favor da justiça e da paz social. Não que a justiça social e a paz entre os homens sejam indiferentes ao Reino. Mas o Reino é muito mais. É a participação na vida divina.
Segundo a concepção “reinocêntrica”, o Reino poderia chegar sem relação com a Igreja. Para as posições mais extremadas dessa concepção, a Igreja seria uma espécie de acessório descartável, que, muitas vezes, teria mesmo prejudicado a implantação do Reino. Tal entendimento desconhece a natureza da Nova Aliança, que é sacramental no sentido forte da palavra: Deus quer valer-se de realidades sensíveis livremente escolhidas por ele, como a humanidade do Verbo, a Igreja visível, os sete sacramentos, para levar a efeito a obra salvífica. Desconhece o “mistério da Igreja”, do qual tanto fala o Vaticano II. Desconhece que a Igreja foi feita indefectível por graça de Deus, embora encerre no seu seio frágeis pecadores.
A indefectibilidade da Igreja, com a qual Cristo quis ornar sua Esposa, é a garantia de que, apesar de todas as fraquezas humanas que nela atuam, ela não pode falhar substancialmente em sua missão, e não pode ser reduzida simplesmente a um sinal entre outros do Reino. Ela é “o” sinal. Por disposição divina, o único Mediador entre Deus e os homens quer fazer-se presente entre nós mediante seu Corpo, que é a Igreja. Assim, a Igreja católica é a única via ordinária que nos conduz a Cristo, Mediador e Plenitude da Revelação, o Reino de Deus em pessoa, uma vez que Cristo a quis como instrumento e sacramento da salvação; somente nela estão presentes todos os elementos salvíficos queridos por Cristo, embora fora de sua demarcação visível se encontrem elementos de santificação e verdade. São palavras do Concílio Vaticano II: “Só pela Igreja católica de Cristo, que é o meio geral de salvação, pode ser atingida toda a plenitude dos meios salutares” (Unitatis Redintegratio, 3). Essa Igreja é a bandeira erguida entre as nações, de tal modo que o Reino de Deus, inaugurado por Jesus, nela atua eficazmente sem possibilidade de perda.A declaração Dominus Iesus, publicada em 2000 por ordem do grande e saudoso Papa João Paulo II, recorda a doutrina eclesiológica tradicional do magistério eclesiástico, ao dizer que, por disposição de Deus, a salvação não se dá sem relação com a Igreja: “A Igreja é ’sacramento universal da salvação’, porque, sempre unida de modo misterioso e subordinada a Jesus Cristo Salvador, sua Cabeça, tem no plano de Deus uma relação imprescindível com a salvação de cada homem”. Mesmo aqueles que se podem salvar fora dos quadros visíveis da Igreja em virtude de sua consciência cândida, podem-no por uma graça que mantém uma relação misteriosa com a Igreja, à qual Cristo Redentor uniu-se de modo irrevogável.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Sucessão apostólica (conclusão)

Jesus revestiu aos apóstolos da Sua autoridade. A Bíblia em local algum indica que esta autoridade dentro da Igreja iria cessar com a morte dos apóstolos e em lugar algum diz que uma vez morto o último apóstolo, a Palavra de Deus escrita tornar-se-ia a autoridade final.
Não há fidelidade à Bíblia, sem fidelidade à Igreja de Cristo. A Igreja sempre foi "a coluna e o fundamento da verdade" (1 Tm 3,15) para os cristãos. Quem conhece a memória cristã sabe que a Bíblia demorou séculos para ser discernida pela Igreja e que os ensinamentos sucessores dos apóstolos eram recebidos como ensinamentos dos próprios apóstolos: "Impossível enumerar nominalmente todos os que então, desde a primeira sucessão dos Apóstolos, tornaram-se pastores ou evangelistas nas Igrejas pelo mundo. Nominalmente confiamos a um escrito apenas a lembrança daqueles cujas obras agora representam a tradição da doutrina apostólica" (HE III, 37,4).
É exatamente através da sucessão apostólica, que podemos identificar onde está a Igreja de Cristo. O colégio dos apóstolos é o que faz visível a Igreja Espiritual. Sem o ministério dos apóstolos não há Igreja; e a perpetuação deste ministério está no ministério dos sucessores dos apóstolos. Como vimos é isto que ensina a Bíblia e é este o testemunho da história do Cristianismo. E em conformidade com toda a Verdade, este é o ensinamento do Santo Padre o Papa, legítimo sucessor de São Pedro (príncipe e líder dos Apóstolos, cf. Lc 22,31s e Mt. 16,18-19).