terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A fome termina quando aprendemos a compartilhar

Relatos de Madre Teresa de Calcutá sobre a opção pelos pobres.

1. Faz umas semanas, dois jovens vieram a nossa casa para oferecer-me muito dinheiro para dar de comer ao povo. Em Calcutá damos de comer a nove mil pessoas por dia. Queriam que o dinheiro se destinasse a alimentar esta gente.
Perguntei-lhes: De onde tiraram tanto dinheiro? Eles me responderam: "Nós acabamos de casar faz dois dias. Antes das bodas decidimos que não compraríamos trajes nem para a cerimônia nem para a festa. Queremos dar a você o dinheiro".
Para um hindu de classe alta isto é um escândalo. Muitos ficaram totalmente surpreendidos ao ver como uma família desse nível não havia comprado trajes nem havia organizado festas por motivo das bodas. Depois perguntei a eles: "Por que não o fizeram?"
Esta foi a estranha resposta que me deram: "Nos amamos tanto que queríamos dar algo a outros para começar nossa vida em comum com um sacrifício". Impressionou-me muito o constatar como estas pessoas estavam famintas de Deus. Uma maneira de manifestar-se o amor mútuo era fazer esse sacrifício enorme. Estou segura de que os ocidentais não podem entender o que significa isto. Em nosso país, na Índia, sabemos o que significa não ter vestidos e festas para a boda. Sem dúvida, estes dois jovens tiveram a audácia de comportar-se assim. Isto é verdadeiramente um amor em ação.
E, onde começa o amor? Na própria casa. Como começa? Rezando juntos. Uma família que reza unida permanece unida. E, se permanece unida, então se amarão uns aos outros como Deus nos ama.

2. Em uma ocasião, pela tarde, um homem veio à nossa casa para contar-nos o caso de uma família hindu de oito filhos. Não comiam há vários dias. Pedia-nos que fizéssemos algo por eles, de modo que tomei um pouco de arroz e fui vê-los. Vi como brilhavam os olhos das crianças por causa da fome. A mãe tomou o arroz de minha mãos dividiu-o em duas partes e saiu. Quando regressou, perguntei-lhe que havia feito com uma das porções de arroz. Respondeu-me: "Eles também têm fome". Sabia que os vizinhos da porta ao lado, os mulçumanos tinham fome. Fiquei mais surpresa por sua preocupação pelos demais que pela ação em si mesma. Em geral, quando sofremos e quando nos encontramos em uma grave necessidade não pensamos nos demais. Pelo contrário, esta mulher maravilhosa, débil, pois não comia há vários dias, tinha tido o mérito de amar e dar aos outros, tinha tido o préstimo de compartir.
Freqüentemente me pergunto quando terminará a fome no mundo. E eu respondo: "Quando tu e eu aprendermos a compartir". Quanto mais temos, menos damos. Quanto menos temos, mais podemos dar.

3. Uma vez encontrei a um homem em um desaguadeiro aberto em Calcutá. Havia visto que algo se movia na água; ao perceber o que acontecia me dei conta de que era um homem. Levei-o a nossa casa para moribundos. Temos um lugar para pessoas nesta situação. Em todos estes anos temos recolhido pelas ruas de Calcutá 45 mil pessoas como esta. Destas, 19 mil morreram rodeadas de amor. De modo que levei aquele homem a nossa casa. Não blasfemou, nem gritou. Seu corpo estava totalmente coberto de vermes. A única coisa que disse foi: "Tenho vivido toda a minha vida nas ruas como um animal. E agora vou morrer como um anjo, amado e atendido". Depois de três ou quatro horas morreu com um sorriso nos lábios. Esta é a grandeza de nossa gente.

4. Ultimamente vêm muitos jovens trabalhar em Calcutá com os moribundos, com os leprosos, ou na casa para as crianças. Um dia chegou também uma moça da Universidade de Paris. Em seu rosto se podia ver uma profunda preocupação. Porém depois de algumas semanas de trabalho com os moribundos, disse: "Encontrei Jesus". "Onde?", perguntei-lhe. Ela me disse: "Encontrei-o na casa dos moribundos". "E, que fizeste?" Confessei-me pela primeira vez depois de quinze anos e enviei um telegrama a meus pais porque encontrei Jesus. Em seus países, na Europa, na América, não sei se o povo morre de fome, porém eu vejo uma pobreza, todavia, mais difícil de extirpar: a solidão daqueles que são marginalizados, a sensação de não se sentir desejado, amado, o ver-se abandonado. Insisto que precisamos aprender a nos amar, pois se não nos amamos, não nos sentimos amados, não podemos amar.

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