sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Gênesis (o segundo relato)

O segundo relato, mais antigo (Gn 2,4b-3,24), de tradição javista, Iahweh Deus faz primeiro o homem e depois o resto da criação. O ser humano do sexo masculino é formado primeiro e dele é tirada a mulher, para uma caracterização da submissão ao homem. Esta narração é unida a outra sobre o paraíso e a queda. Há, portanto, ao menos duas grandes tradições, a da criação do homem e da mulher, a "antropogonia", e a do paraíso e da queda. Provavelmente o que ajudou o autor a reuni-las foi o fato de que as duas falam de jardim.
Este relato da criação não quer ser uma obra de história, é um gênero literário, é um livro de sabedoria, simbólico, mas de reflexão antropológica e teológica em torno do sentido da vida, do Bem e do Mal, das verdades fundamentais na construção de uma sociedade justa. Ele afirma que o ser humano foi feito do barro, que pode ser moldado, modificado, que a natureza humana provém da matéria, portanto, da terra.
O Jardim do Édem é colocado como um lugar bonito pelo autor que parece projetar saudade sobre um passado possível de retorno. A história do jardim pode ter sido igualmente uma fórmula utópica de pregação para estimular a mudança, ou seja, vamos construir um mundo sem violência que permita a todos serem aquilo que são: imagem e semelhança de Deus (Gn 1,27). Na figura deste jardim encontramos os anseios mais humanos e mais divinos de uma vida em plenitude, de harmonia, de justiça e de paz.
A árvore da ciência ou a árvore do centro do jardim não é uma questão de conhecimento, mas de limite. O outro, o próximo é a medida do limite. Deus não permite que haja exploração dos dons, das qualidades e daquilo que cada um produz. Outro pode ser adubado, podado, mas tem que ser respeitado, não pode ser tocado, bulinado.
A tentação da serpente é a tentação constante, que ainda hoje se repete, de eliminar o outro usando todos os meios. Ser igual a deuses significa ter a posse e o direito sobre o outro (cf. 3, 1-13).
No geral a mensagem que fica é que Deus criou todas as coisas conforme o seu tempo e a sua vontade. O homem, olhando da ótica evolucionista, foi parte desta criação, que ainda como Homo erectus, Homo faber, Homo sapiens e Homem de Neandertal, na figura de Adão e Eva, recebe o sopro de Deus, começando aí a racionalidade. O direito de escolha, o livre arbítrio, só somos livres porque temos a racionalidade, a liberdade e a capacidade para amar.
O homem se difere dos outros seres por esta capacidade de racionalizar para amar, o símbolo do barro quer mostrar isto, que o homem veio da terra, mas que pode ser moldado, cuidado, respeitado, modificado e amado. Afim de também respeitar e cuidar do próximo, do outro (árvore da ciência), não querendo ser maior, não querendo ser como deuses que dominam, escravizam e tiram até o direito de descanso, não querendo usurpar, ter as coisa alheias e até enganar e matar para isto (Caim e Abel). O outro, neste caso, é a medida de limite, pois nossa liberdade acaba quando invadimos a privacidade do próximo.
O mal nesta visão é a ausência do bem, se não há amor aí está o mal, quando como serpentes enganamos, trapaceamos estamos praticando o mal. Por isto, Cristo em sua sabedoria divina nos chama a amar até os nossos inimigos e nos mostra que por pior que este seja Deus está ali.

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