quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Gênesis (os dois relatos da Criação do mundo)

O primeiro relato, mais recente (Gn 1,1-2,4a), de tradição sacerdotal, é mais teológico. Nesta narrativa, Deus não age, apenas ordena pela palavra, e tudo acontece. Ele inicia afirmando a origem de tudo nas águas. "No princípio, Deus criou o céu e a terra. Ora a terra estava vazia e vaga, as trevas cobriam o abismo, e um sopro de Deus agitava a superfície das águas" (cf. 1, 1-2). Procura contar as origens do céu e da terra, pretendendo oferecer uma visão completa da origem dos seres segundo um plano refletido. Tudo vem a existência sob a ordem de Deus e tudo é criado segundo uma ordem crescente de dignidade. Deus é anterior à criação e todos os seres receberam dele o dom da vida. Este corrige os aspectos androcêntricos (homem como centro), colocando homem e mulher em igualdade, pois ambos são à imagem e semelhança de Deus (cf. 1,27).
A narrativa da criação, de tradição sacerdotal, partiu da experiência dos direitos negados, dentro da escravidão da Babilônia, colocando a ação de Deus dentro de uma estrutura semanal, com um sétimo dia, no qual não há trabalho, mas celebração da vida. "Deus concluiu no sétimo dia a obra que fizera e no sétimo dia descansou" (cf. 2,2). O texto mostra que o ser humano deve trabalhar e que é por meio do trabalho que terá sua subsistência, que através dele o ser humano ganha o seu pão de cada dia. Mas defende o direito de descanso que desde aquela época (Exílio) até os dias de hoje é muitas vezes negado, e esta estrutura do texto pode ter significado uma forma de resistência ou também um protesto contra a exploração do trabalho. Muitas vezes, ainda nos dias de hoje, vemos estas situações onde o trabalhador é roubado nos seus dons, é escravizado numa política de emprego cruel imposta pela sociedade. Uma desigualdade financeira que não permite a maioria, moradia, alimentação, saneamentos decentes e nem sequer o direito ao descanso. A narrativa nos leva a reflexão de como devemos olhar o trabalho do outro, não explorando os seus dons, tempo e a dignidade.
Continua...

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